Clara olhou para Rodrigo e se viu em seus olhos. Gostou mais da Clara que via nos olhos de Rodrigo, do que da Clara que ela via no espelho. Quebrou o espelho e ficou com os olhos do moço. Rodrigo beijou Clara e se perdeu em seus lábios. Já não tinha mais a exata dimensão do seu corpo quando estava com ela. Clara, ao contrário de Rodrigo, encontrou o seu corpo nos toques do amante. Seu corpo, tão esquisito, tão perdido e sem contorno, ganhou forma. Soube naquele momento, que moraria no abraço de Rodrigo.
E todo dia era assim. O amor do casal era radiante, os amigos se irritavam com a melação dos dois, as amigas morriam de inveja daquele pôr-do-sol ambulante que era o casal. Clara não era ciumenta, Rodrigo era, mas tudo bem. Clara tinha TPM, Rodrigo ficava louco da vida, mas tudo bem. Rodrigo passava horas no Playstation, Clara reclamava, mas tudo bem. E tudo ia bem, recheado de amor, algumas DR’s, algum carinho, bastante tesão.
Eis que um dia Rodrigo olhou pra Clara, mas não a viu. E aí Clara deixou de se ver nos olhos de Rodrigo. Se afastaram na tentativa de entender o que estava acontecendo, não entenderam e não tornaram a se aproximar. O amor acabou. Ninguém entendia o porquê, e na verdade nem Rodrigo e Clara sabiam explicar. “Foi a rotina”, diziam. Mas lá no fundo sabiam que os fins, assim como os começos, nem sempre têm explicação. Porque o amor e os sonhos são como a vida: a gente não sabe como começa e nem como termina. Só nos cabe aproveitar enquanto dura. E se nós, humanos, somos finitos, por que raios os amores seriam eternos? Sorte nossa que a eternidade pode ser inserida na intensidade, e não no tempo. Aí, sim, todo amor pode ser eterno. Sorte nossa também que o amor se metamorfoseia. Aí a gente pode deixar de amar de um jeito e passar a amar de outro, e depois de outro, e depois de outro. Mas sem romantismos, há amores que não amam.
Por : Ana SS (Confraria dos Trouxas)
Nenhum comentário:
Postar um comentário